terça-feira, 7 de março de 2017

A HORA DA ESTRELA, Clarice Lispector

Entrevista no youtube: https://youtu.be/ohHP1l2EVnU
Videoaula de "a hora da estrela": https://youtu.be/vLWb2tLJjRo
Entrevista Elis Regina: https://youtu.be/2KREP0e0fw4

A HORA DA ESTRELA

Eu não quero dar uma de intelectual fazendo uma mega análise sobre o livro, só queria contar com as minhas palavras o que eu achei e senti e o que aprendi e o que discuti/pesquisei sobre ele. 

É o único livro que li da autora, mas logo na orelha já sou informada de que é um livro que difere um pouco da "tradicional Clarice" pois ela deixa seu lado introspectivo.

Há duas histórias que se entrelaçam (os especialistas dizem 3... pois contam como terceira o modo que o narrador lida com a obra também, ok, são 3, enfim): a de Macabéa, nordestina do sertão de Alagoas que foi para o Rio de Janeiro com a tia que cuidava dela; e a do escritor Rodrigo S. M. que conta sua história refletindo sobre como ele a ama e a odeia.

Na vida de Macabéa nada acontece, mas mesmo assim Rodrigo passa o livro falando sobre ela. É uma história que não é nada confortável nem cheia de flores e unicórnios cantando e dançando. É uma história incômoda que mexe com nossos sentimentos. Não é só uma denúncia da miséria (material ou espiritual), é um livro para reflexão do leitor/autor, observador/ator...

Rodrigo enquanto conta a história de Macabéa, pára "no meio" pra contar sobre o que ele pensa, então a história dela vai ficando fragmentada e misturada com a dele. Ao mesmo tempo que ele fala sobre o processo de escrita, o que eu acho que é qdo se mistura muito mais à Clarice, aliás, muitas características de Rodrigo S. M. são da autora mesmo, como o próprio motivo para Rodrigo começar a escrever a história... em entrevista que deu à TV cultura em 1977 ao jornalista Júlio Lerner, ela fala sobre um livro que terminou de escrever. Não revela título nem nome da personagem principal, mas diz que "a história é de inocência pesada, miséria anônima", "a personagem é nordestina, é de Alagoas", "peguei o ar meio perdido do nordestino no Rio de Janeiro", "depois eu f
ui a uma cartomante e imaginei, ela me disse várias coisas boas que iam acontecer, e imaginei quando tomei o táxi de volta que seria muito engraçado se o táxi me pegasse e me atropelasse depois de ter ouvido tantas coisas boas".

Há um tempo assisti a essa entrevista e fiquei pensando em reler "a hora da estrela", só depois soube que fora sua última novela, como ela mesma diz. Ao assistir à entrevista me interessei e adquiri seus livros de contos e sua biografia... agora, mais do que nunca, vou finalmente ler tudo o que tenho dela! Mesmo sabendo que "a hora da estrela" é praticamente sua "exceção".

Abaixo, alguns trechos da entrevista que me fizeram admirar essa escritora... que me intimidou no começo, mas que me fez gostar depois...

CLARICE: Quando eu me comunico com a criança é fácil pq sou muito maternal. Quando me comunico com adulto, na verdade estou me comunicando com o mais secreto de mim mesma, aí é difícil.

LERNER: O adulto é sempre solitário?

CLARICE: O adulto é triste e solitário.

LERNER: E a criança?

CLARICE: A criança tem a fantasia né, solta...

LERNER: A partir de que momento, de acordo com a escritora, o ser humano vai se tornando em triste e solitário?

CLARICE: Ah, isso é segredo. Desculpe, não vou responder. A qualquer momento na vida, basta um choque um pouco inesperado e isso acontece. Mas eu não sou solitária não, tenho muitos amigos. Eu só tô triste hoje pq eu tô cansada, no geral sou alegre.

"Eu não sou uma profissional, eu só escrevo quando eu quero. Eu sou uma amadora e faço questão de ser amadora. Profissional é aquele que tem uma obrigação consigo mesmo de escrever, ou então com o outro, com relação ao outro. Agora eu faço questão de não ser um profissional, pra manter a minha liberdade."

"Eu acho que quando não escrevo eu estou morta."

"Entender não é questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato."

Fim.

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